Discussão Dorense

Discussão Dorense

sábado, 29 de setembro de 2012

O AR DA DEMOCRACIA



 Muito tempo sumido, mas é bom voltar porque é véspera de eleição. Muita gente ainda não sabe o que é política e pra que ela serve. Enfim, não sabem sua funcionalidade no fim das contas.
O termo “política” vem do grego “pólis”, que significa cidade. Mas o Ocidente não só readaptou o termo para dar significância à organização social mas também toda sua teoria e fundamento. Toda forma de organização social pode se dar o nome de política, mas as formas de política podem variar. Aristóteles, antigo filósofo grego, dividiu a antiga política em três regimes políticos: a monarquia, a oligarquia e a democracia.
A Monarquia (que vem do grego monos=um e arché=governo), é o governo de um só, que pode ser denominado de rei, tirano ou outras formalidades para qual se destina o significado do governo de uma só pessoa. A diferença desse governo com os outros é que além do rei ou tirano governar sozinho, ele próprio cria suas leis, podendo beneficiar a sociedade ou não, ou seja, ele pode criar leis para beneficiar a si mesmo, fazendo do poder um meio para seu próprio conforto e bem individual. Esse tipo de governo ainda existe hoje em dia, como em uma considerável quantia dos países asiáticos e em alguns países da Europa, como Espanha e Inglaterra (mas lembremos que a monarquia desses países sofreu uma alteração porque o monarca não cria leis à sua vontade, eles geralmente tem ministros e deputados para uma ajuda na elaboração das leis. Falarei disso nos próximos artigos, destacando a diferença da monarquia aristotélica antiga e da monarquia contemporânea).
A oligarquia (oligoi=poucos; arché=governo), é uma denominação de um regime político não muito ouvido hoje, a não ser em estudos sobre política e filosofia ou afins. Aristóteles denominava essa forma de governo o melhor regime, pois esses poucos a tomar o poder para organizar a sociedade seriam os mais inteligentes, que para ele, seriam os filósofos. Hoje podemos vê-la de um modo indireto no nosso regime político. O governo está nas mãos de poucos, mas a diferença do nosso regime para o de Aristóteles é que nem sempre os mais inteligentes estão no poder e os que estão lá são eleitos por voto popular, uma diferença crucial que colocarei nas próximas linhas.
A democracia (demos=povo; kratein=governo) é o governo dito por nós todos como o regime político adotado pelo Brasil, porque é o povo que decide quem governa. Bom... É aqui que se inicia uma história bem interessante desse regime político desde seu nascimento na Grécia até o suas modificações que temos nele hoje.
Na Grécia antiga, por volta de 600 a 400 anos antes de Cristo, cada cidade era um Estado independente. O que isso significa? Que cada cidade tinha suas leis independentes umas das outras. Não eram regidas por uma Constituição única, como no Brasil e nos países democráticos hoje, onde estados e cidades ficam no limiar da União, submetidas à constituição estatal única. As leis de Atenas eram diferentes das de Esparta, apesar das duas serem modelos principais de democracia.
Naquela época, na praça principal das cidades, denominadas Ágoras, os cidadãos das cidades se reuniam para discutir os problemas e tentar resolvê-los das melhores formas possíveis. Interessante isso, não é? Imagine isso hoje: todos nós na pracinha de Dores de Campos discutindo os problemas da cidade e tentando fazer alguma coisa por ela. Seria bom assim, né? Mas... Tanto em Atena como em Esparta a definição de cidadão era diferente da nossa. Para eles só poderiam discutir os problemas das cidades os homens, ou seja, crianças, adolescentes, mulheres e escravos não participavam desses pleitos. O número era bem reduzido e então a discussão em praça era possível. O homem que não participava das reuniões nas ágoras era mal visto pela sociedade e duramente criticado.
Esse modelo, apesar de ser mal visto por Aristóteles que o deturpava, chamando-o de degeneração, porque não visava o bem comum, foi adotado por vários Estados e sofreu várias adequações.
A democracia se estendeu para os antigos não cidadãos. Resumindo: a cidadania cresceu e com ela a participação popular nas decisões da política. Mas com o crescimento da cidadania, onde adolescentes e mulheres começaram a participar das decisões políticas, as discussões em praças ficaram impossíveis de ser realizadas. Imagine a bagunça na nossa pracinha com todo mundo querendo falar... Praticamente impossível tal coisa.
O direito da mulher às decisões nas políticas começou nos Estados Unidos, somente em 1869, quando ela conseguiu direito ao voto. Mas somente no território de  Wyoming que ela com muita luta se inseriu nas decisões políticas. A mulher só começou a votar mesmo em um estado por completo foi na Nova Zelândia, em 1893. Vejam só: mais de 2300 anos para a mulher ter seu direito ao voto.
Com esse impasse da impossibilidade das decisões políticas ficarem nas calorosas discussões nas ágoras, foi então sugerido um modelo representativo de Governo. Esse modelo foi proposto por Stuart Mill, filósofo inglês do século XIX, onde escreveu a obra “O Governo Representativo”, salientando esse problema e promovendo uma solução para os partidos políticos ingleses de sua época. Para ele, o povo elegendo uma minoria para representar suas necessidades e vontades numa Câmara, seria a solução democrática então vista como um governo “bagunçado, onde todo mundo fala e ninguém resolve nada”. A Inglaterra não era democrática e continua não sendo, mas o modelo de Mill serviu para os países de regime não autoritário, como o nosso e dos Estados Unidos. A Câmara seria responsável pelas discussões e resoluções dos problemas da sociedade, porque o seu fundamento é esse, já que pelo voto transferimos nosso direito de debater e resolver os problemas para o candidato. É dele essa responsabilidade e se ela não for cumprida, é nosso dever cobrar porque era para nós estarmos em seus lugares discutindo.
Outro ponto principal do Governo Representativo que se estende consequentemente aos candidatos das eleições seria o dever de se responsabilizarem por aqueles que não se interessam pela política. É dever dos candidatos saber o que é melhor para a sociedade em geral, não determinando certos grupos de interesses particulares. Administrar o todo seria o papel de todo político do regime político democrático, já que a ele foi transferido o papel representativo da vontade e necessidade da sociedade. Se um candidato não souber dessas necessidades, ele com certeza não está apto para uma candidatura plena.
O Brasil ainda não é bem administrado porque a sociedade não é culturalmente preparada para a política. Não é culpa de o político ser irresponsável mas é totalmente nossa porque não estamos intelectualmente preparados para ver se o candidato é preparado ou não. Muitas das vezes decidimos nossos votos pelo calor das festas partidárias e consequentemente nos afogamos em más administrações. Votamos muitas das vezes em pessoas que nunca leram um livro. Como uma sociedade brasileira pode estar politicamente educada se ela lê em média UM livro por ano? Devemos ter uma educação política nas escolas para as crianças onde desde cedo ela saberá do que se trata e saberá ver e discernir o mau do bom político (candidato). Se nosso governo seguir a opinião de Thomas Hobbes, um filósofo inglês do século XVII, que porventura era a favor da monarquia, de instaurar uma educação política para as crianças nas escolas, nosso país seria outro.  
Fico por aqui e até à próxima.