Discussão Dorense

Discussão Dorense

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

BOI DA PROMESSA – PARTE I






- Se estivesses mesmo, pai Francisco, faria o que estou te pedindo...

- Mas, mãe... Como irei arrumar isso agora?
- Ai... ai...
- Tá doendo? Vai nascer?
-Quero agora porque não quero ver meu filho nascer com cara de língua de boi.
- Mas já é madrugada...
- Quer ver nosso filho com cara de boi?
- Não! Deus me livre!
- Então consiga pra mim. Eu não tenho culpa de querer comer língua de boi. Bateu um desejo de repente e pronto.
- Não serve uma galinha?
- E o que galinha tem a ver com boi? Vá-se agora, homem. Senão nosso bebê nascerá um bezerrinho desmamado.
E lá se foi pai Francisco seguindo mata fechada, encoberto pelo manto da escuridão. Os sapos coaxavam na beira da lagoa, formando na floresta seu canto clássico do norte do Brasil. Esse senhor de média idade seguia pela estrada afora, intencionado chegar em alguma venda mesmo que fechada naquela hora da noite. Depois pensou muito e refletiu:
- Como saberei se é venda se está fechada? Se ao menos encontrasse um boi por aqui... Não seria certo, mas como deixarei a mãe com desejo de língua de boi? E se meu filho nascer um bezerrinho desmamado? Não... Acharei um boi nem que tenha que atravessar o rio Amazonas...
Como era muito pobre, não teria nem uma galinha caso ela tivesse desejo. De certo modo, de uma maneira ou de outra, teria de sair do mesmo jeito à procura do saciar do desejo de mainha. Mas uma galinha seria muito mais fácil de se pegar, agora uma língua de boi...
Lá se vai ele, caminhando estrada adentro. Passos lentos, olhar vivo e ouvidos aguçados. Na floresta de madrugada é perigoso: tem cobras, morcegos e outros bichos nada amigáveis.
Sair naquele horário foi um enorme perigo para pai Francisco. Seu amo não gostaria nada de ver um escravo seu rondando fora da fazenda. Tudo indicaria uma fuga e isso não traria benefícios para ele e nem para mãe Catirina. Seria castigado e seu filho correria o risco de não nascer. Pensou painho novamente e voltou para a senzala.
- Trouxe pra mim? Tô com fome...

- Sabe o que é, eu... eu...
- Não me diga que demorou tanto pra voltar com as mãos abanando?
- Não é isso, mainha. Fiquei com medo de trazer ele cá pra dentro porque tá tudo sujo de sangue e pensei que tu te assustarias. Então deixei o boi fora da senzala pra o sinhozinho não ver. Mas vou lá fora agora e trarei a língua dele para lhe matar a vontade.
Pai Francisco não teria escolha. Pensara nessa alternativa antes, mas queria ter outra opção, uma que deixasse menos zangado o amo da fazenda. Mas seu medo do filho nascer um bezerrinho era mais forte e, sem mais opções viáveis, saiu correndo, pulou a cerca do curral do sinhozinho da fazenda, escolheu o boi mais bonito, matou-lhe a pancadas de picareta bem no meio da cabeça e com uma faca bem amolada, arrancou-lhe a língua.
Com um saco de trigo, limpou todo o sangue das mãos e embrulhou a língua do boi para levar à mãe Catirina.

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Pela manhã, sinhazinha, com toda sua beleza de flor de idade, amarrou o chapéu bordado com flores de cetim à cabeça e abriu sua sombrinha toda confeccionada por uma artista adequado do ramo. Com certeza, era algo muito valioso, pois era muito bem talhada e envolve uma mão de obra minuciosa, não próprio de escravos. Devia ter vindo da Europa.
Logo depois do café, saiu às pressas para cumprimentar seu boi preferido.
- Minha querida, cuidado com seu vestido. Não vá sujá-lo. Custou muito caro a seu pai!
- Sim, minha mãe. Juro que não o sujarei.
Entrando de qualquer maneira no curral e lambuzando de barro toda a borda inferior do vestido, sinhazinha foi gritando o boi desde a porteira. Não se ouviu seu mugido como era o costume diário e nem suas cabeçadas na parede. Sinhazinha sempre entendera isso como um “bom dia”.
- Boi, boi, boi, boi, boi, boi...
As vacas, mascando seus capins diários, mal levantavam a cabeça para acompanhar a filha do amo delas.
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Sinhazinha se preocupou. Virou-se para trás e percebeu pegadas na porteira. Os estábulos se espalhavam em duas fileiras retas, colocando-se à esquerda e à direita por ali adentro, distribuindo-se uniformemente, dando vista para dentro dos estábulos logo ao chegar na porteira do curral.




Sinhazinha não via seu boi predileto, aquele que ela amava de todo coração. Seu “alojamento” com certeza estava vazio. E uma coisa a mais lhe deixava ainda mais perplexa: muitas pegadas no chão barrento do curral levava ao estábulo do boi.
Protegida pelo sol com sua sombrinha ornamentada, seus cachos loiros por debaixo do chapéu voaram ao vento quando correu para ver o que aconteceu com seu boi. Suas luvas brancas que protegiam suas mãos suaves e bem cuidadas caíram no barro quando ela abriu o estábulo.
- Pai, pai, pai... – gritava ela frenética, desconsolada, enraivecida e suicida – vem aqui, vem aqui. Olha meu boi, olha meu boi...
Todos os capitães da fazenda chegaram desesperados e desorientados. O que aquela menina viu pra ficar daquele jeito?
- Olhem meu boi, olhem meu boi, ah, meu boi querido, mataram ele.
Quanto todos se amontoavam pra ver o acontecido na porta do estábulo, chega o sinhozinho com espingarda à mão, lívido como uma cera.
-Que é que foi menina? Por que tiraste meus empregados de seus afazeres?
- Olha pai o que fizeram com meu boi, olha só pai. Que maldade fizeram, que maldade. Porque logo o meu, logo o boi mais bonito da fazenda?
Sim , aquele boi branco que um dia antes mostrava sua potente e exuberante beleza, agora tinha um furo na cabeça, a boca escancarada e sem língua, banhado com seu próprio sangue esparramado no chão barrento do estábulo.
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- Quero o culpado antes do entardecer, senão a cabeça de vocês é que vão rolar... Mas aquele capitão que me trouxer o desgraçado, serei generoso com ele.
Todos gostariam da generosidade do sinhozinho. Geralmente era um cargo maior com melhor salário ou um dinheiro extra. Todos os sete capitães a serviço do amo da fazenda se espalharam rapidamente, pulando as cercas do curral atrás do dito cujo. Mas um infeliz, tropeçando num barro seco, caíra de joelhos no chão, atrasando sua procura e causando-lhe um sentimento de que tudo se perdeu, que sua procura acabara ali.

Ao se levantar calmamente e tentando limpar os joelhos da calça surrada, viu marcas diferentes no barro seco do curral, algo totalmente diferente das botas dos capitães. Eram marcas de pés descalços. Sim, sentira que sua caçada ainda não terminara. Talvez um escravo teria pulado a cerca pela madrugada e matara o boi. Mas ainda não entendera porque lhe arrancara a língua.
- Qual o negro que teria essa audácia de matar o boi preferido da sinhazinha? – pensara ele.

Arrumou sua espingarda como de costume, e, sem pressa e com muito cuidado pra não desmanchar as pistas, foi seguindo as pegadas.
O capitão ficou ainda mais furioso ao ver onde elas davam: na senzala da própria fazenda.
- Um escravo daqui mesmo fez isso?

Correu até ela e chutou a porta violentamente. Todos os escravos estavam trabalhando com exceção de um: mãe Catirina. Ela estava deitada, pronta pra dar à luz e ao ver o capitão, sentiu muito medo e as contrações começara. Estava na hora do parto.
No chão, ao lado da cabeça de mãe Catirina, um prato de barro estava todo sujo com restos de comida e um molho escuro.
Desconfiado, perguntou a escrava o que era. Ela, com fortes dores, não respondeu. Pai Francisco lhe havia contado a verdade de que a língua do boi era o da sinhazinha da fazenda. O capitão então tomou o prato, provou a carne e teve certeza que aquilo era a língua do boi do curral.
Jogando o prato no chão, espatifando-o e correndo até a fazenda, o capitão informou ao sinhozinho onde achou a língua e que o provável matador do boi era o Pai Francisco.

Sabendo da notícia, o escravo foi chamado pelo dono da fazenda. Sinhazinha estava com ele para saber quem era o terrível assassino que acabara com a graça de sua vida.
- Porque fez isso, seu insolente? O que pensa que é? Não passa de um escravo que só serve pra trabalhar!
- Fiz isso porque mãe Catirina tinha desejo de comer língua de boi e eu tive medo do meu filho nascesse com cara de bezerrinho desmamado! Me perdoa, sinhozinho, não irei mais fazer isso!
- E quem disse que escravo é gente pra ter perdão? E quando escravo faz uma coisa errada, é uma vez só. Antes nascer com cara de boi do que escravo. Um boi tem muito mais serventia. Uma surra de setenta chicotadas e depois verei o que fazer contigo.

O filho de pai Francisco e mãe Catirina nasceu à tarde, com todo apoio dos escravos parteiros da fazenda, mas ao terrível som de setenta chicotadas que se espalhava por toda a fazenda.
Nessa noite, sinhazinha não conseguia dormir. Estava triste por seu boi e aborrecida pela covardia com pai Francisco. Também teria medo se seu filho fosse vítima de seu desejo e nascesse com cara de bezerrinho desmamado...

BOI DA PROMESSA - PARTE II



Na prisão de escravos, no porão da fazenda onde a porta era externa, sinhazinha de manhã bem cedo foi visitar pai Francisco.

- Foi muito ruim o que fez com meu boi. Você não tem coração não?

Gemendo pela dor irremediável nas costas, ele não teve dúvidas ao responder.

- Sinhá, não fiz por mal. Levei pra minha senhora comer. Ela teve desejo de comer língua de boi e tava na hora do neném nascer. Não queria que ele nascesse com cara de boi!


- Mas logo o mais bonito? Não tinha outros por lá?

- Ele me chamou a atenção porque era o mais bonito. Eu vi ele de longe e fui correndo pegar sua língua. Minha senhora estava sentindo dores naquela hora e não pude ficar escolhendo muito.

Chorando, sinhazinha suplica ao escravo:

- E como EU fico? Tô chorando por ele há quanto tempo... Sinto muito a falta dele, ele era tudo pra mim. Outro boi nunca será a mesma coisa e também nem quero outro. Eu exijo o meu boi de volta!

Pai Francisco se aproximou bem da porta da cela e a encarou bem nos olhos.

- Para nós escravos, isso tem como acontecer.

O rosto de sinhazinha se iluminou.

- Como?

- Nossa gente diz que se é capaz de reviver uma coisa que morreu. Ouvi casos de que pajés das tribos dessa região trouxeram a vida novamente a animais mortos por caçadores maus. São muitas histórias que escuto desde que sou criança.

Sinhazinha, um pouco incrédula mas esperançosa, insistiu um pouco no caso.

- Me conta onde encontro um desses pajés que te tiro dessa prisão.

Sem interesse em ser libertado e convencido da paixão da sinhazinha pelo boi, pai Francisco revela o paradeiro do pajé.

- O que fica mais perto é o pajé da tribo Parintintins, a três dias daqui.

Sinhozinho demorara dois dias para chegar a tal tribo indo a cavalo. Acompanhado de seus capitães armados às escondidas e de sua filha, não hesitara em atender ao pedido de sinhazinha. Ele também gostava muito daquele boi e faria tudo para tê-lo de volta, nem que para isso custasse acreditar nessas besteiras de rituais xamânicos.

O pajé, assustado com a visita, pede calmamente para que sinhozinho se explique.

- Meu escravo matou o boi mais bonito e querido da fazenda e nós queríamos tê-lo de volta. Acredito que você possa fazer isso, trazer sua alma de volta ao seu corpo. Minha filha não se agüenta de angústia e eu também estou em suplício.

Pajé não olha o fazendeiro mas encara sinhazinha. Chega bem perto dela e comprime seu rosto em suas mãos ásperas. Aproximou seu rosto bem perto do dela, observou os olhos inquietos da moça e não duvidou. Ela realmente gostava do boi.

Deu ordem a alguns escolhidos dos índios da tribo para que o acompanhassem e o ajudassem no ritual necessário para trazer o boi de volta à vida.

- Só te digo uma coisa, senhoria: o espírito poderá querer uma forma diferente em vida, já que ele se foi e nós o traremos de volta. A senhora ainda assim quer o boi?

- Quero ele de volta nem que volte em forma de cobra gigante.

Caminharam de volta à fazenda, levando o caminho de volta três dias.

O boi estava tampado por vários sacos de milho no centro do curral.

Era tardinha e o pajé não queria perder tempo. Mandou que seus acompanhantes o retirassem do curral e o botassem um pouco à frente da porteira.
Levantou uma enorme fogueira e os índios fizeram uma roda em volta dela. Começaram suas danças e cânticos, batendo palmas e o pé forte no chão. O pajé, com as costas virada para o curral, sentou-se no chão e cruzou as pernas. Respirou profundamente e fechou os olhos. A dança dos índios se intensificou, as palmas cessaram e as batidas dos pés ficaram mais fortes, acelerando o ritmo da dança. A fogueira se expandia aos lados e para cima. O contato estava
querendo se estabelecer: o xamã buscava a alma do boi.

Sinhazinha e o amo estavam atrás, abraçados um ao outro. O boi estava pouco à frente do pajé, que estava intacto, feito árvore. Os índios não paravam: os cantos se tornaram mais fortes, naquela linguagem indescritível. Não era o idioma indígena de costume deles. Percebia-se a diferença no sotaque e do movimento dos lábios.

Tudo se silenciou de repente. Pajé disse:

- Mais paciência, encontrei o espírito da cobra grande e ela me dirá onde encontrar o boi. Ele está perdido no mundo das almas dos animais.

Fez silêncio e os cânticos voltaram ao normal. Tudo era muito sincronizado: com certeza os índios também estavam no mundo dos espíritos dos animais juntamente com o pajé.

Os índios pararam novamente e a fogueira diminuiu seu fogo. O eco do silêncio encheu a fazenda.

O pajé se levantou calmamente, ajuntou as pernas e levantou os braços ao nível do peito. Abriu os olhos e sinhazinha percebeu que estavam totalmente brancos. Abraçou seu pai com mais força e teve medo.

- Tragam o boi para mais perto. Achei seu espírito. Convenci-o a ficar e trazer alegria para essa família novamente, felicidade que poderá ser eterna.

Os índios trouxeram o boi com certa dificuldade pelo seu tamanho (eram cerca de uns vinte), e o botaram defronte as pernas do xamã.

Com os braços à altura do peito e as palmas das mãos viradas para

baixo, balbuciou algo inaudível e todos os indígenas responderam em uníssono, fazendo tremer sinhazinha.

- É chegada a hora! Mais para longe, todos! Ele está chegando.

Todos os índios se afastaram, sinhazinha e seu pai ficaram ainda mais longe.

Deu-se um último grito e o boi, deitado no chão, começou uma branda levitação. Os olhos da sinhá moça se encheram d’água.

- Ele vai voltar, pai!

O boi se levantou mais e uma luz muito forte o envolveu. Todos tamparam os olhos para não se cegarem. Mas ela foi ficando mais fraca aos poucos ao ponto de ter possibilidade de poder ver o que se sucedia. A luz, que ainda brilhava, deu lugar a um pequeno cometa feito de luz florescente, que veio circulando desde o rabo do boi até sua cabeça, deixando rastros de luz cair sobre seu corpo.

Ouviu-se um estampido. O boi caíra de repente. Mas o barulho não correspondia ao seu peso: parecia uma coisa bem mais leve.

Todos os presentes acharam aquilo surpreendente. O que o espírito do boi resolvera fazer? Todos chegaram mais perto e o boi se levantou desesperado do chão, dando cabeçada nos índios e nos capitães que chegaram curiosos naquele momento.

Sinhazinha veio correndo e pulou de felicidade. Pulou muito mesmo. Apaixonou por aquilo que via. Mostrou-o ao seu pai entusiasmada, que também não acreditava em seus olhos.

O boi, agora que se apresentava feito de pano, pano muito fino, mais fino que todos os panos europeus, uma branco muito mais branco que as nuvens do céu e que também apresentava um coração muito vermelho na testa no lugar da ferida, veio correndo ao seu encontro, mugindo feliz. No outro mundo não encontrara uma ama como aquela. Sinhazinha o abraçou carinhosamente, chorando muito, passando a mão sobre aquele pano, muito surpresa com aquela manifestação do pajé.

- O espírito escolhe. Ele viu sua felicidade aqui ao seu lado, sinhá, e não quis abrir mão dela nunca mais. Boi feito de pano não morre.

Pai Francisco foi solto e participou da grande festa que o sinozinho dera naquela noite. Muita dança, muita música e muita gente dançando em volta do boi, que era o centro da festa e das

atenções. Mãe Catirina pode mostrar o filho ao seu marido e comemorar junto a festa do Boi da Promessa do pajé.
















(Baseado na lenda do boi-bumbá, que inspira toda a festa de Parintins no Amazonas.)

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

CARTA DE ALERTA




Eu ainda não consigo entender a vida. É a segunda oportunidade que dou a ela, mas seu semblante obscureceu e não se preserva como eu quero. Como nós queremos. Logo quando achei uma maneira de dar vida novamente, ela não faz questão de desejar a si mesma. Porque tem de ser assim? Pior sou eu, tentando driblar o infortúnio do destino. Infelizmente, tem de ser assim, não tenho escolha. Como disse meu amigo... Sinto saudades dele... Como pude lhe dar ouvidos? Agora não adianta chorar... Estar junto à morte e à vida é a maior desgraça de um ser humano. É certamente muito melhor lidar com uma ou com a outra. Com as duas, é contra a natureza, é impossível.


Crandall, que Deus o tenha, descansa na verdadeira paz no verdadeiro cemitério. Esse sim, descansa e que sua mulher lhe faça companhia onde ele estiver. Meu Deus... Isso tudo é minha culpa... Porque fui lhe dar ouvidos? Porque não deixei Gage em seu descanso? Agora seu corpo enterrado no porão me dá uma tristeza indescritível, de chorar toda vez ao olhar aquela porta amarelada. Dentro de casa o cheiro insuportável da minha mulher fica impregnado nas minhas roupas e nas minhas narinas. Como pude ser tão egoísta? Querer tudo pra mim e não pensar na ordem natural das coisas? Como pude eu, como médico, atrapalhar a linha do tempo e brincar de Deus? Que desespero... Eu grito muito, mas, do que adianta gritar? Estou com medo de Rachel, me ameaçando cada vez que me vê jogado no chão.

Meu uísque acabou... Tenho de pegar mais... Oh, não! A vadia quebrou todas as garrafas... Sem ele não posso viver... Escuto as risadas dela: “Não me queria de volta, amor? Porque me rejeita? Estou na cama, venha fazer amor comigo! Hahahahahaha!” Ela não me deixa em paz! Que nojo! Seu cheiro fica na casa toda ao mesmo tempo. Uuuggghhhhh!!!! Não agüentei chegar ao banheiro. Meu vômito só tem líquido e cheira a álcool. Só tenho bebido nos últimos três dias e comido cereal. O pior é que não posso sair de casa. Rachel outro dia matou o cachorro do vizinho e o arrastou para casa. Se não fosse minha intervenção, seu almoço teria sido um filé de cão fresco, mal passado. Enterrei o cachorro na horta, enquanto ela ria como uma insana dentro do banheiro.

Suas atitudes estão piorando. Não sei o que fazer. Outro dia ela comia o dedão do pé esquerdo. Sujou todo o chão de sangue. Dei-lhe uma bofetada na cara, mas logo me arrependi. Ela virou para mim, com os olhos roxos e com aquela marca enrugada e ensangüentada no pescoço e balbuciou: “Você me ama. Não tem o direito de fazer isso. Por isso se arrepende, mas o amanhã seu arrependimento será muito maior.” Realmente, me assustei com as palavras e seus olhos assassinos. Aquela não era a Rachel que eu conhecia há mais de dez anos. Com certeza, era o seu corpo ali, mas não era ela, assim como não foi o de Gage...

Sua pele de quando em vez brotava sangue. A madeira do chão estava toda manchada. Os tapetes tive de jogar todos fora, de quebra ainda tive de telefonar para o serviço municipal para vir buscar o lixo em grande escala. E custaram a vir. O serviço em área rural dessa cidade não é dos melhores...

O que fazer com Rachel? Agora ela está na horta, ajoelhada no chão. Acho que está cavando um buraco. Estou muito cansado e tenho tomado muitas pílulas para não dormir. Tenho medo à noite. Ela faz muitos barulhos estranhos e eu nem tenho coragem de me levantar do chão para saber o que é... Mas me mantenho alerto. Consegui dormir hoje umas duas horas quando a tranquei no banheiro. Quando a soltei, ela saiu tão desesperada que desceu tropicando escada abaixo, até cair e rolar até ao último degrau. Me deu um certo alívio naquele momento, pois vi tudo terminado. A paz de Rachel e a minha paz se encontrariam. Ela voltaria ao túmulo e eu tentaria retomar a minha vida. Corri escada abaixo todo esperançoso e ajoelhei defronte seu corpo, encarando seu rosto virado cento e oitenta graus para trás, de acordo como seu corpo havia caído. Cheguei bem perto e lhe ouvi o nariz. Nada de respiração. Senti uma alegria esplêndida. Agora ela não voltaria mais e eu realmente lhe poderia enterrar. Ri muito alto naquela hora. “Finalmente eu me livrei daquilo”. Me assentei ao lado do corpo e descansei minhas pernas cansadas e sujas. Tinha medo de tomar banho. Nem sabia o que poderia encontrar dentro do banheiro depois que eu a tranquei lá. Chorei de verdade. Não precisaria fazer com ela o que fiz com Gage... Meu Deus, aquele dia... Aquele dia... Deixei de pensar nesse dia de súbito e me concentrei no momento. Sim, tudo daria certo a partir daquela hora. Era o final feliz para uma história trágica, a história de um cemitério de animais e de um cemitério micmac, onde se iniciara com a vida e a morte de uma mãe e de um filho com seus míseros três anos.

“Ainda não foi dessa vez, querido... Eu ainda não fiz amor com você!” Levei um susto tão grande e caí desacordado no chão, fazendo o maior estrondo ao bater minha cabeça na madeira. Rachel estatalara os olhos e resmungou tais palavras, se levantando do chão com o pescoço todo virado para trás, fazendo alusão à boneca da minha filha, exatamente do jeito que ela gostava de virar a cabeça da boneca. Seus passos estavam mais lentos e seus gestos também. Pelo menos o tombo lhe havia prejudicado os movimentos. Já era um grande passo. Já era mais difícil suas caminhadas pelas vizinhanças, assustando as pessoas. Mas exatamente ao terminar de pensar nisso, ela sorrateiramente coloca a mão no trinco e tenta sair da casa. Estava trancada à chave. Tateando a parede, com o pescoço virado para trás e gemendo muito, descobriu a chave. Ia girando-a no trinco mas corri até ela, com muitas dores na nuca, e segurei seus braços. Depois que ela voltara, nunca a havia pegado daquela maneira. Firme, convicto e com mais certeza da minha paixão pela antiga Rachel. Tive pena dela naquele momento: não a deixaria sair pela rua como a boneca de Ellie. A segurei pelos dois lados da cabeça e girei novamente cento e oitenta graus. Sua cabeça pertencia ao mundo dos homens normais.

A encarei tristemente. Ela não me olhou dessa vez. Só quis sair depressa de casa e seguir perturbando todos na redondeza. Todos sabiam que ela havia saído do cemitério indígena, por isso ainda não tinham vindo atrás de mim. Só trancavam as portas e ignoravam seus urros. Eu não tinha me acostumado com eles ainda e chorava todas as vezes que aquele barulho vinha de longe. Onde eu fui parar... Não fui capaz de dar descanso para meu filho e para minha esposa... Que tipo de homem eu sou...

Um barulho surdo aconteceu do lado de fora. Era mais um dos feitos de Rachel... O que teria aprontado agora? Fui lentamente até a porta e a vi estirada sobre a grama da horta, com o rosto todo virado pro chão. O que aconteceu? Corri até ela e cutuquei suas pernas com o pé. Nada de reação. Olhei sua cabeça e ela também não girava. Me aproximei e cutuquei com o pé de longe seu braço esquerdo. Inútil. O que era agora? Não queria levar outro susto e por isso fiquei de vigia ao longe, a uns dois metros. Ouvi murmúrios bem baixos... Muito baixos... Franzi as sosobrancelhas e arriscando, me aproximei mais. Ouvi algo parecido: “não consigo, não consigo...” O que aconteceu? Continuei escutando e numa clareza científica, percebi o fato. Rachel murmurou: “Levantar, levantar...” Ela não conseguia levantar. O tombo lha havia quebrado a coluna e a havia deixado tetraplégica... Minha querida Rachel, além de andar entre os dois mundos, agora não poderia mais se mexer... Era minha oportunidade de acabar com essa história. Havia jogado minha pasta com AO 1945 no corredor do meu quarto quando voltei da casa de Crandall e sem pressa alguma e sem medo, poderia ir buscá-lo para por fim ao meu pesadelo. Essa injeção letal consegui por meios ilegais e me custara muito dinheiro. Mas não vi outra saída para acabar com aquilo que voltara no corpo de Gage... Ele falou que não era justo no momento de sua segunda partida, eu também achei que não. Afinal, eu quis aquilo. Eu coloquei aquilo para fora de seu sossego...


Fui devagar pegar a pasta. Voltei correndo com medo de o corpo não estar mais lá, de ela ter me enganado e sumido para sempre. Mas não. Estava do mesmo jeito de antes. Coloquei a mala sobre o corpo e peguei a seringa com uma boa quantia de AO1945. Não testei se a seringa funcionava perfeitamente: injetei levemente a agulha no pescoço de Rachel e apliquei o liquido suavemente... A seringa foi se esvaziando tranquilamente e o músculo antes rígido foi relaxando...brancelhas e arriscando, me aproximei mais. Ouvi algo parecido: “não consigo, não consigo...” O que aconteceu? Continuei escutando e numa clareza científica, percebi o fato. Rachel murmurou: “Levantar, levantar...” Ela não conseguia levantar. O tombo lha havia quebrado a coluna e a havia deixado tetraplégica... Minha querida Rachel, além de andar entre os dois mundos, agora não poderia mais se mexer... Era minha oportunidade de acabar com essa história. Havia jogado minha pasta com AO 1945 no corredor do meu quarto quando voltei da casa de Crandall e sem pressa alguma e sem medo, poderia ir buscá-lo para por fim ao meu pesadelo. Essa injeção letal consegui por meios ilegais e me custara muito dinheiro. Mas não vi outra saída para acabar com aquilo que voltara no c
orpo de Gage... Ele falou que não era justo no momento de sua segunda partida, eu também achei que não. Afinal, eu quis aquilo. Eu coloquei aquilo para fora de seu sossego...

A injeção havia terminado. Os murmúrios haviam cessado e o silêncio tinha tomado conta da casa. Era quase meia noite. O mal cheiro começava a se esvanecer e o aroma do assoalho de madeira maciça começava a entrar pelas minhas narinas. Parte do pesadelo terminou. O fim de tudo está onde Gage se encontra sob as terras, no porão da minha casa... De certa maneira, já tinha deixado tudo preparado, caso não conseguisse me resolver com Rachel...

Meu caso havia sido resolvido. Seu espírito agora descansava em paz. Precisava dar descanso para o meu agora. Meu corpo e minha mente maltrataram minha alma e ela agora clamava por descanso. Um descanso merecido, penso eu. Deixo essas páginas escritas porque o que tem lá em cima desperta curiosidade, depois satisfação, depois desespero, e quando menos se espera, você está num inferno sem volta. Os micmac’s não fizeram solo sagrado, mas buscaram a porta do inferno e depositaram bem perto de onde vim morar com minha família. Com certeza eu repito as palavras do meu grande amigo Crandall: “às vezes a morte é o melhor caminho”. Não se engana a vida, e nem tampouco a morte.

Acabo de escrever essas poucas palavras de desabafo aqui mesmo no porão. Tudo se consuma aqui. Meu filho descansa sob meus pés e também minha esposa. Acabei de enterrá-la. Minha filha terá um futuro brilhante com seus avós e meu presente agora será passado. Essa corda arrumei na casa do Crandall, quando minha esposa e o espírito assassino no corpo de Gage estavam lá. Peguei a corda querendo dar fim a tudo naquela hora mas quando vi Rachel morta, quis dar mais uma chance a ela como dei a Gage. Se ele teve uma chance, porque ela não poderia ter? Talvez com ela seria diferente... Mas não foi e aqui estou eu.

Nem sei se alguém lerá essas minhas palavras. Mas ao ler, não se esqueçam disso: “às vezes, a morte é o melhor caminho”.

Carta encontrada pela polícia de Portland, Maine, EUA, em 17 de Outubro de 1983

(Baseado do romance de terror, Cemitério de animais, de Stephen King)


quarta-feira, 26 de outubro de 2011

DEPOIS DA ESCOLHA


Passou-se dois dias amargos após a decisão de sua mãe. Sua irmã encontrava-se agora nos braços da mãe e ele, miúdo, roupas encardidas, afundava-se na ambígua escuridão do quarto super lotado de pessoas.
Um menino de oito anos, com sede e com frio. Uma semana sem tomar banho e com uma ferida na perna, coçando de até machucar. Os piolhos infestavam seus cabelos. O incômodo era tão grande que as noites eram difíceis e insuportáveis para se dormir. O velho judeu esquelético semimorto no canto direito da porta retratava o destino de milhares de pessoas do campo de Auschwitz.
Muitas crianças choravam. Todas estavam sem pais e mães. Não só separados pelos soldados, mas pela mão divina. Ou talvez de divino não tinha nada. Deus não queria aquilo. Aliás, Deus havia virado as costas para seu povo e o largado à mercê da desgraça.
        - Me dá um pedaço?
A fome era tamanha. O homem, magro, sentado ao lado da criança, devorando um pão seco e mofado, virou as costas. A fome iria continuar e lhe devorar as entranhas.
A noite passou e a criança, sem dormir, foi empurrado pelos nazistas para o pátio. Agarraram-no pela camisa rasgada e o puseram numa fila enorme. As pessoas não falavam, não gritavam, não reclamavam. Em seus semblantes não havia nem um que de tristeza. Afinal, caminhavam para o nada. Ali naquele desconforto do chão barrento, descalços, com sede e fome, frio e o pior, os rostos felizes dos soldados lhes observando, sedentos da raça pura. Os judeus não se sentiam mais humanos. Perderam todos os sentimentos, lhes restando, enquanto a condição física permitia, os instintos da natureza.
Mais de uma coisa tinham certeza: naquela fila o sofrimento teria fim. Seria o ato sublime. A paz retornou, finalmente. A esperança da felicidade encontrava-se no interior da câmara de gás a uns duzentos metros à frente e ninguém, mas ninguém interferiria no desejo incomensurável da despedida da indiferença. Estariam quites consigo mesmos. Eram nada e pro nada retornariam.
O menino observava tudo em sua volta: o sargento, através da janela da casa, comia frango assado e arroz, seguido de uma taça de vinho sobre um lenço branco. Um quadro acima de sua cabeça lembrava sua mãe, justamente pela forma dos cabelos e das jóias no pescoço. O cheiro do café lhe recordava das manhãs do inverno, onde acordava bem cedo para o lanche da manhã, sendo recebido com um abraço bem apertado da mãe e com um beijo muito caloroso. E depois, a escola. Lugar de muitos amigos e muitas brincadeiras. Quem sabe onde eles estariam agora: talvez, bem acomodados em casa, ou talvez estaria no galpão ali, ao lado. A coceira na cabeça trouxe a recordação os piolhos pegos na escola uma vez. Sua mãe lhe lambuzara a cabeça de óleo e depois, alisava com pente fino. Tão cuidadosa ela! Mas o cheiro terrível vindo da câmara não lhe trazia lembranças, nem desde que uma fossa vizinha fora
aberta para alguns reparos. Aquela lembrança ficaria para sempre em sua memória, apesar dela não existir mais depois de um tempo.
A fila ia diminuindo. A cada dez minutos, os guardas abriam a câmara, e com máscaras, retiravam grandes quantidades de corpos. A pilha ao lado se sobrepunha a uns cinco metros de altura, só de corpos nus, misturado velhos, adultos e crianças. Mais abaixo, um aterro onde muitos judeus empurravam carrinho de mão com dois ou três corpos, jogando-os dentro do buraco para a cremação ao ar livre.
Tudo isso era indiferente. Não se via tristeza nem amargura nos rostos maltratados e sujos dos judeus escravos, forçados a trabalhar sendo a morte seu caminho inevitável. Nada poderiam fazer pois seu destino já estava traçado a fazer parte de uma limpeza étnica liderado por um maluco alemão. Estavam ali e não havia volta. Não havia tempo para a tristeza: o viver dava conta do pensamento da morte e pra morte, não dá trégua para a tristeza. Viver para morrer é suplício, não tristeza.
A criança ia se aproximando cada vez mais da câmara. Os nazistas, fumando e gargalhando, contavam histórias e anedotas ouvidas na boate no dia anterior. O outro na porta, bebia água em grandes goles. Com certeza era um alívio para o estômago e uma cura para a ressaca. Um judeu, na porta da câmara à espera de seu momento, ajoelha nos chãos e grita para os céus: Porque faz isso com seu povo? Os soldados, assustados com o berro, atiram seus cigarros ao chão e tiram-no aos trancos. Botam ele em ao lado esquerdo da fila, em pé e a uns vinte metros do muro do campo, sacam a arma e estouram sua cabeça. Quatro tiros na cabeça de três soldados. O primeiro a atirar deu o quarto tiro, o último, pois foi o que mais se assustou com seu grito.
Todos tamparam o ouvido. Ninguém ainda havia se acostumado com o estampido das armas, apesar de ser corriqueiro o seu enorme uso nos campos de concentração. Por uma bala perdia-se histórias enormes de vida, exemplos de superação e de humanidade.
        A fila deu mais um passo. O garoto ainda olhava o morto ao lado do muro, sendo despido pelos judeus e jogado no carrinho de mão, enferrujado e amarelado pelo contato com o tempo. Mordeu os dedos e não os sentiu, tamanho o frio daquela manhã.
Inclinou a cabeça pela direita, olhando à frente, mas não soube contar quantos foram os últimos a entrar. Haviam mais três à sua frente. O silêncio era absoluto, ouvindo ao longe os apitos do trem chegando. “Mais carga...” – reclama um soldado, responsável pelos galpões. “Três horas atrás chegou uma e agora mais essa. Avisa o comandante para aumentar o intervalo de tempo senão não teremos lugar para comportar os animais”.
O outro, às pressas, foi se encontrar com o comandante nos portões do campo, transmitindo o recado aproveitando para cumprimentar o maquinista, amigo há muito tempo sumido.
O cheiro da cremação invadia o campo. Muitos alemães tampavam os narizes e não gostavam daquilo, sendo que reinvidicaram a queima dos corpos fora dos campos de concentração de Auschwitz. O cheiro era insuportável e atrapalhava as horas de lazer e a do almoço.
Abriu-se a porta. Adentram-se cinco soldados com máscaras e retiraram mais de cinqüenta corpos. A pilha aumentou e os judeus com carrinhos de mão aceleram o trabalho.
Mais prisioneiros são empurrados para a câmara. Entre eles está o menino, agora enrolando as mãos frias na borda da camisa. Olhou para os lados enquanto todos ali faziam o mesmo que ele, conhecendo o lugar onde se despediriam da indiferença. Não, ele não chorou, mas tossiu muito pois o Zyklon-B entrava pelas suas narinas e sufocava sua garganta. A porta foi fechada e a luz apagada fez um jovem ao fundo gemer. Um cheiro forte tomou todos os pulmões da sala e um a um, foram caindo no chão. O garoto não enxergou mais nada e preferiu sonhar.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

ÉTICA NOS ANIMAIS



A vontade de atender ao próprio prazer vem com uma potência quantitativa, onde quando mais se satisfaz, maior é a ideia de felicidade encontrada, onde nem sempre é verdade. É comum vermos o consumismo degenerar a sociedade e ela própria, sem se dar conta, sabe disso, mas para ela pouco importa. Logo uma nova necessidade de prazer irá chamá-la ao consumismo e a outra, ultrapassada, será apenas uma folha rasgada e jogada fora.               
E isso se dá sem medidas das consequências. Isso relatado acima acontece com qualquer objeto, sendo inanimado ou um ser vivo. Prova disso? Prestem atenção nas queimadas na Amazônia: em troca da luxúria, não respeitam a árvore (como ser vivo e como parte integral da natureza), desmatando e sacrificando animais da floresta, como se fossem intrusos ou simplesmente, um nada como aquele quando olhamos para o universo no telescópio. A banalização da vida, isso sim. Sem bem que o homem nem respeita mais a si mesmo, imagina os outros...
Sim, leitores. Vim aqui porque tenho visto muitas coisas, boas e ruins e achei, FINALMENTE, um assunto interessante de reflexão para o blog.
A introdução acima é uma definição do assunto comentado abaixo. Isso tudo por uma cena vista todos os dias, desde semana passada.
Ao descer para o trabalho, cerca de 5:40 da manhã, me deparo com duas cadelas enroscadas uma a outra, em frente à Princesinha, tremendo de frio. Me lembrei que pouco tempo atrás aquela mesma cadela (a maior), estava rodeada de filhotinhos na pracinha. Agora só estava com uma, e bem maior. Me peguei pensando: será se algum dia teve um dono? Ainda hoje, terça-feira, vejo as duas no mesmo lugar. Tem uma marquise e parece ser mais quente, calculo eu, por estarem tremendo ambas.
Mas agora reflito com convicção: um cão solto na rua teve um dono um dia. Ele não é um cervo ou um leão, animais selvagens, perfeitos na natureza onde é seu lar. O cão é um animal DOMÉSTICO. Seu nome científico? Canis lupus familiaris. Viu? Tem até escrito “família” no nome científico (não que essa seja a causa, é só um trocadilho). Ele se adequou tanto a nós que mereceu o nome como um membro pertencente de um agregamento de humanos. É a partir daqui onde volto lá na introdução: o bichinho está querendo ser, independente de sua vontade, como um “bum”, daqueles sucessos que vem e vão. Vem, todos querem e estão satisfeitíssimos com a novidade. Cansa, ninguém quer mais e deixa de lado.
Tendências quando crescem muito, tendem a perder o controle. A internet, por exemplo. Com sua propagação e evolução, está passando por um lento controle ético, quase à beira de um colapso. Não se enganem ao verem na TV a Justiça investindo em crimes cibernéticos. Estão muito, mas muito longe do almejado. Tudo o que é “da moda”, passa. Pois é: moda agora é ter um cachorrinho em casa. Quantos milhões de reais estão rendendo os produtos pet? Muitos, isso garanto. E o cuidado com eles, aquele todo especial, próprio de um membro da família (Canis lupus familiaris), tem uma boa propagação?
Sim e não. Bom, não nego o esforço de programas como o da Luisa Mell, na Tv Gazeta, todos os domingos. Isso demonstra aquele controle ético, preocupados com a expansão modista dos animais de estimação. Porque? Apesar de termos muitas pessoas realmente preocupadas e interessadas em cuidar de seu bichinho como um autêntico membro da família, maior ainda é o número de pessoas inescrupulosas e viciadas naquilo que “é de momento”. Ou talvez nem isso: sentem-se superiores a qualquer animal e faz deles como um saco de plástico merecedores da lata de lixo. Acabam por matar ou, por sadismo, torturar o bicho por sentirem prazer que a vida deles está em suas mãos. A apresentadora, quando há denúncias, vai até o local, chama a polícia e mostra pro delinqüente o valor da vida animal, nem que seja por intermédio da justiça dos homens. Justiça há, apesar de não ser o esperado. Cabe, na maioria das vezes, multas pequenas ou prestação de serviços. Isso porque a mídia tá de olho, pois se não fosse assim, a Justiça não faria por onde preocupar.
Espero uma mudança dela frente a esses assuntos. No Jornal do SBT, às 5:00 da manhã, deu uma notícia surpreendente e animadora. Com a expansão do comércio de animais domésticos e da utilização cada vez maior de animais selvagens em circos, a Casa Legislativa Federal entrará com um projeto de lei que protege os animais sob qualquer circunstância. Sim, teremos leis em favor dos animais. Não será somente uma questão moral, mas judicial também. A filmagem de um circo por um celular ( não me lembro da cidade), mostradas no jornal, eram desesperadoras e chocantes. Me deixaram super tristes e fui para o trabalho muito aborrecido: cachorros eram socados com toda força, elefantes espetados e muito machucados. Um leão levava cassetada na cabeça com um porrete. Isso tudo fazia parte do treinamento para a apresentação circense. Foram imagens fortíssimas.
Dois filósofos trataram sobre a questão dos direitos animais: Peter Singer e Tom Regan. Eles criticam o especismo e defendem direitos básicos para os animais, como a vida, por exemplo.  Peter Singer diz que o especismo é uma forma de racismo ou machismo frente aos animais. Tom Regan, na mesma linha de Singer, defende que os animais devem ter direitos básicos, assim como os seres humanos têm. Os animais devem ser considerados neles mesmos, não em relação que tem com os humanos como um todo participante da natureza. Eis o resumo das idéias dos “filósofos dos animais”.
Deve ser o nosso papel pensar para o animal, sendo nós racionais. Devemos raciocinar para eles sendo nossos desejos similares pois um animal almeja viver como nós, e cabe aos humanos a obrigação de lhes dar um estatuto de respeito e igualdade até. Já viram um bebê com um mês de vida se alimentando por si mesmo, em luta pela sobrevivência? NÂO. Os filhotes dos animais com um mês de vida já se desprendem das mães e vivem na natureza, em busca de seu próprio sustento. Com esse argumento, deixo uma questão reflexiva: será o “animal” inferior ao homem ou não é meramente um raciocínio ortodoxo humano de superioridade por se considerar pensante?                                                                                 

terça-feira, 4 de outubro de 2011

A fé em jogo


                A fé não é meramente uma questão institucional. Disso ninguém tem dúvida. Mas não é o que se observa na mídia e no nosso dia a dia. Muita gente se esqueceu do fundamento subjetivo do sentimento religioso, daquela fé forte vinda do interior. E o pior: a maioria das pessoas está convicta que sem qualquer instituição, não é possível ter uma vida religiosa saudável. A crença em Deus só é válida quando é demonstrada socialmente, ou seja, quando se freqüenta uma igreja, assistindo missas ou cultos.
                Não que estejam erradas, mas uma sociedade costuma ter o terrível costume de se ver obrigada a freqüentar tais lugares, pois se tornou um costume. Costume esse nem sempre correto, porque os indivíduos nem sempre estão bem ali. Talvez ele queira conhecer outros lugares, outros tipos diversos de cultos. O costume social o envolveu que lhe tirou a liberdade que é seu de direito constitucional. Uma pessoa pode não estar satisfeita com a fé católica, mas apreciou a protestante. Por que há um mal nisso? Ela vê um mal nesse pensamento por se sentir oprimida por fatores morais que lhe rodeiam, como os costumes sociais, exemplo claro daquele que diz: “Pessoa que muda de religião, é porque não tem nenhuma.” O indivíduo se vê angustiado e acuado, temendo ser mal falado e pior, morre de medo de “queimar no fogo do inferno”.
                Devo informar que as igrejas foram construídas muito tempo depois da vinda de Cristo na Terra. Então, seus caminhos são alternativos, não obrigatórios. Cristo não fundou nenhuma pelas suas próprias mãos. Ao contrário, como diz o evangelho apócrifo de Tomé, ele dizia justamente ao contrário: “Levante uma pedra e estarei lá. Rache uma lasca de madeira, e me encontrarás.”
                Vivenciar uma religiosidade objetiva é bom, mas o seu fundamento é a subjetividade. É o que cada um tem a ver consigo mesmo. É como cada um se dá melhor para vivenciar e experienciar sua fé. Ninguém precisa ficar sabendo disso. É a liberdade o fundamento de tudo. Se você não tem vontade ou não consegue conceber uma religiosidade sozinho, que busque uma igreja. Se não agradou de uma primeira, vá para uma segunda. Ainda não agradou? Vá atrás da terceira. O inaceitável nesse caminho é você estar insatisfeito no lugar que freqüenta. Não gostou? Saia. Não dê ouvidos para aquela frase famosa: “Começa assim, não fica é em lugar nenhum.” E daí? São eles os experenciadores de sua religiosidade ou você? Se achar melhor, ou, dizendo de outra maneira, acha que a fé é totalmente subjetiva e que Igreja não tem influência nisso, tem a liberdade da escolha! Viva assim. Viva feliz consigo mesmo, pois sua fé lhe satisfaz. Se no final das contas, percebeu que não acredita em nada, que tudo não passou de uma ilusão, não precisa mentir para você mesmo. Se admita como tal e viva feliz. Mas preste muita atenção: não satisfaça os outros ou qualquer pessoa que seja e esqueça de você. Não seja ator de teatro ou de televisão, que ficam falando palavras decoradas, longe de suas verdadeiras personalidades. Fique e faça onde se sinta mais feliz, sendo você. Os costumes nem sempre guiam a felicidade subjetiva, não se esqueçam disso!

Cultura do Álcool

Anunciar que o nosso município está profundamente enraizado na “cultura do álcool”, para mim é de suma importância e grande tristeza.
Essa cultura está à frente de nossos olhos e já nos habituamos tanto a ela que não nos parece mais uma anormalidade, assim como já nos acostumamos aos noticiários sobre a violência no nosso país. O enorme número de bares, “botequins”, e outras coisas do gênero, para um município de apenas 8.000 habitantes, tornou-se uma caso de saúde pública e nem nos apercebemos diante dessa circunstância. Próximo à minha casa, a 1,5 Km, consegui contar 5 bares. E eles só continuam porque tem gente que os sustentem.
Os donos desses bares são ou fizeram parte da mão de obra desenvolvimentista da economia brasileira, colaborando para o enriquecimento capital e como proletários, precisam de uma renda extra para complementar o salário pequeno ou previdenciário, que por si sós não dão uma condição digna de vida. Eles só querem ter uma condição digna de vida e, baseado na realidade do município, vendo o que os sujeitos mais gostam, abrem logo um barzinho para complementar sua fonte de renda. O maior índice de venda de bebidas alcoólicas é nos finais de semana, mas existem os dependentes que são fregueses.
Existe aqui um pequeno “mas”. Pequeno que se torna enorme. A sociedade está viciada e não consegue se ver  fora mais desses costumes. Os bares se tornaram a referência nos finais de semana e não existe alternativa.
Nunca a bebida alcoólica foi tão difundida em Dores de Campos e no Brasil. Dados comprovam que 80% dos brasileiros têm tendências ao alcoolismo. Nossa cidade não passa de um espelho desses dados sociológicos.
Houve uma grande inversão de valores a partir do século XXI em nosso município, uma coisa muito bem observada. Crianças que outrora ocupavam sua infância com futebol, bolas de gude, pipas, queimadas, pegas, agora mudaram seu molde de vida. Houve um progresso (ou pode ser um retrocesso) moral na qual a infância do século XXI está moldada à juventude do final do século XX. Valores de adolescentes dos anos 90 foram “vestidos” pelas nossas crianças. Essas, hoje, principalmente aquelas em fase de pré-adolescência, fundamentam suas precoces vidas em namoros, celulares modernos, roupas da moda, e, em tons mais perigosos, no álcool e nas drogas ilícitas.
Mesmo por ordem judicial da proibição de vendas de bebidas alcoólicas em estabelecimentos para menores, o comércio continua. E o mais preocupante: vendem em plena luz do dia, sem a mínima consideração pela lei.
A família dorense deveria dobrar a educação aos filhos de forma bem solícita em relação à reflexão acerca das drogas lícitas (bebidas e cigarros). Exemplos para isso é o que não falta. É só dar uma voltinha com eles na rua no fim de semana e mostrar o que acontece com quem bebe.
Tanto o Serviço Social como as Políticas Públicas deveriam dar ênfase a esses problemas e procurar uma solução, através de projetos, demonstrando que é possível divertir sem bebidas alcoólicas. Promover eventos adequados para todas as faixas etárias, como circo, parque, teatro, cinema, etc.
Isso também é papel da Igreja. É de se perceber nas quermesses a venda de bebidas alcoólicas e presença de pessoas embriagadas, cometendo atos inapropriados para tal tipo de festa. Adolescentes têm livre acesso às bebidas, contrariando também a lei. As políticas organizacionais das quermesses têm de ser revistas, para o ambiente poder ser acessível à família e à sociedade.


A QUESTÃO ANTISSEMITA NA CRUCIFICAÇÃO DE CRISTO




                “Os chefes dos sacerdotes e os anciões, porém, persuadiram as multidões a que pedissem Barrabás e que fizessem Jesus perecer. O governador respondeu-lhes: Qual dos dois quereis que vos solte?  Disseram: Barrabás! Pilatos perguntou: Que farei de Jesus, quem chamam de Cristo? Todos responderam: Sejam crucificado! – Tornou a dizer-lhes: Mas que mal ele fez? Eles, porém, gritavam com mais veemência: Seja crucificado! Vendo Pilatos que nada conseguia, mas, ao contrário, a desordem aumentava, pegou água e, lavando as mãos na presença da multidão, disse: Estou inocente desse sangue. A responsabilidade é vossa!” (Mt 27, 20-24)
                “A multidão, tendo subido, começou a pedir que lhes fizesse como sempre havia feito. Pilatos, então, perguntou-lhes: Quereis que eu vos solte o rei dos judeus? Porque ele sabia, com efeito, que os sacerdotes o haviam entregue por inveja. Os chefes dos sacerdotes, porém, incitavam o povo a pedirem, antes, que, lhes soltasse Barrabás. Pilatos perguntou-lhes de novo: Que farei de Jesus, que dizeis ser o rei dos judeus? Eles gritaram de novo: Crucifica-o! Disse-lhes Pilatos: Mas que mal ele fez? Eles, porém, gritavam com mais veemência: Crucifica-o!” (Mc 15, 8-14)
                “Depois de convocar os chefes dos sacerdotes, os chefes e o povo, Pilatos disse-lhes: Vós me apresentastes esse homem como agitador do povo: ora, eu o interroguei diante de vós e não encontrei neste homem motivo algum de condenação, como o acusais. Tampouco Herodes, uma vez que ele o enviou novamente a nós. Como vedes, este homem nada fez para que mereça a morte. Por isso o soltarei, depois de o castigar. Eles, porém, vociferavam todos juntos: Morra esse homem! Solta-nos Barrabás! Este último havia sido preso por um motim na cidade e por homicídio. Pilatos, querendo soltar Jesus, dirigiu-lhes de novo a palavra. Mas eles gritavam: Crucifica-o! Crucifica-o! Pela terceira vez, disse-lhes: Que mal fez este homem? Nenhum motivo de morte encontrei nele! Por isso o solto depois de o castigar. Eles, porém, insistiam com grandes gritos, pedindo que fosse crucificado; e seus clamores aumentavam. (Lc 23, 13-23)
                “Pilatos, de novo, saiu e lhes disse: Vede: eu vo-lo trago aqui fora, para saberdes que não encontro nele motivo algum de condenação. Jesus, então, saiu, trazendo a coroa de espinhos e o manto de púrpura. E Pilatos lhes disse: Eis o homem! Quando os chefes dos sacerdotes e os guardas o viram, gritaram: Crucifica-o! Crucifica-o! Disse-lhes Pilatos: Tomai-o vós e crucificai-o, porque eu não encontro nele motivo algum de condenação. Os JUDEUS responderam-lhe: Nós temos uma lei e, conforme essa Lei, ele deve morrer, porque se fez filho de Deus.” (Jo 19, 4-7)
                Conforme citado e bem visto acima, percebemos claramente nos quatro evangelhos da Bíblia a presença de mais pessoas além dos sacerdotes e dos chefes dos templos na condenação de Cristo. E é aí a problemática desse artigo: quem foram essas pessoas? Conforme nos diz o galileu João, não há dúvidas de que foram os judeus a pressionarem Pilatos em vista dos tumultos feitos no julgamento. Mas, querendo afastar de qualquer maneira a visão anti-semita na crucificação de Cristo, os judeus contemporâneos negam a participação judaica na condenação de Jesus ou simplesmente acusam de anti-semitismo os que ressaltam esse pequeno detalhe nos sermões cristãos. Até Mel Gibson, ao dirigir “A Paixão de Cristo”, foi taxado de anti-semita, pois colocou a presença de judeus no ato do julgamento. Ele respondeu que se inspirou nos evangelhos ao dirigir o filme e, conforme visto acima, ele não estava errado.
                Será então a Bíblia ou os evangelistas anti-semitas? Pouco provável, porque eles próprios eram judeus e o próprio Jesus. Não fizeram nada além de relatar um acontecimento histórico muito importante para todo o mundo durante vários séculos. Acusar os judeus da condenação de Cristo não quer dizer de forma alguma se autodenominar anti-semita. Falar nisso é uma questão totalmente histórica, pelo menos bíblica. Taxar essa questão dessa maneira é entrar na moda contemporânea de anti-racismo. Moda essa negativa, onde não se pode mais se expressar opiniões, prejudicando o estado de direito e de democracia. Que diferença há em dizer: Os judeus mataram Cristo e o Hitler (ou os alemães) matou (aram) os judeus? O evento da 2ª Guerra Mundial não fora de fato um evento histórico? Como os que afirmam isso não são denominados de antigermânicos? Não se pode negar um evento histórico e os que nele estavam, deixando sua marca, sendo positiva ou negativamente.
                Teria a possibilidade de nos evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas, no que se refere ao “povo” que eles citam, serem germânicos, gauleses, romanos? Também é provável que não. Germânia e Gália estão muito distantes dali e os romanos eram a minoria em meio a quantidade de judeus. Apesar de não expressarem claramente como João, há uma forte tendência de que queriam se referir aos judeus.
                Ao longo da história, os judeus foram mais vítimas que carrascos. A própria Bíblia relata sua escravidão no antigo Egito (sendo libertados por Moisés), depois no início do século XX na França, dando início ao movimento racista denominado antisemitismo, e, ao evento mais marcante do conhecimento de todos, a II Guerra Mundial. Hoje ainda vemos sua vitimação através da constante luta pelo reconhecimento do estado palestino dentro de Israel.
                Ressalto uma coisa muito importante e que seja bem clara para os leitores: nunca se deve julgar os povos pelo seu passado. Os alemães contemporâneos não podem carregar a culpa do genocídio e os judeus não podem ser taxados de culpa pela morte de Cristo. O Papa pediu desculpas pelos erros passados da Igreja e se fosse possível, cada um desses povos também pediria. Mas também não podemos negar as evidências históricas ao relatarmos tais feitos e negarmos a participação de certas pessoas ou povos para evitar a crítica.
                Não sou anti-semita e muito menos tenho alguma aversão a qualquer sociedade. Mas, ao olhar a História e perceber tais atos feitos por tais pessoas e escrever sobre isso, não me faz disso “aquele que aponta o dedo”, mas demonstrar diferenças sobre aquilo que se é e o que não é. O passado, nesta questão, não justifica o presente.