Discussão Dorense

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quarta-feira, 26 de outubro de 2011

DEPOIS DA ESCOLHA


Passou-se dois dias amargos após a decisão de sua mãe. Sua irmã encontrava-se agora nos braços da mãe e ele, miúdo, roupas encardidas, afundava-se na ambígua escuridão do quarto super lotado de pessoas.
Um menino de oito anos, com sede e com frio. Uma semana sem tomar banho e com uma ferida na perna, coçando de até machucar. Os piolhos infestavam seus cabelos. O incômodo era tão grande que as noites eram difíceis e insuportáveis para se dormir. O velho judeu esquelético semimorto no canto direito da porta retratava o destino de milhares de pessoas do campo de Auschwitz.
Muitas crianças choravam. Todas estavam sem pais e mães. Não só separados pelos soldados, mas pela mão divina. Ou talvez de divino não tinha nada. Deus não queria aquilo. Aliás, Deus havia virado as costas para seu povo e o largado à mercê da desgraça.
        - Me dá um pedaço?
A fome era tamanha. O homem, magro, sentado ao lado da criança, devorando um pão seco e mofado, virou as costas. A fome iria continuar e lhe devorar as entranhas.
A noite passou e a criança, sem dormir, foi empurrado pelos nazistas para o pátio. Agarraram-no pela camisa rasgada e o puseram numa fila enorme. As pessoas não falavam, não gritavam, não reclamavam. Em seus semblantes não havia nem um que de tristeza. Afinal, caminhavam para o nada. Ali naquele desconforto do chão barrento, descalços, com sede e fome, frio e o pior, os rostos felizes dos soldados lhes observando, sedentos da raça pura. Os judeus não se sentiam mais humanos. Perderam todos os sentimentos, lhes restando, enquanto a condição física permitia, os instintos da natureza.
Mais de uma coisa tinham certeza: naquela fila o sofrimento teria fim. Seria o ato sublime. A paz retornou, finalmente. A esperança da felicidade encontrava-se no interior da câmara de gás a uns duzentos metros à frente e ninguém, mas ninguém interferiria no desejo incomensurável da despedida da indiferença. Estariam quites consigo mesmos. Eram nada e pro nada retornariam.
O menino observava tudo em sua volta: o sargento, através da janela da casa, comia frango assado e arroz, seguido de uma taça de vinho sobre um lenço branco. Um quadro acima de sua cabeça lembrava sua mãe, justamente pela forma dos cabelos e das jóias no pescoço. O cheiro do café lhe recordava das manhãs do inverno, onde acordava bem cedo para o lanche da manhã, sendo recebido com um abraço bem apertado da mãe e com um beijo muito caloroso. E depois, a escola. Lugar de muitos amigos e muitas brincadeiras. Quem sabe onde eles estariam agora: talvez, bem acomodados em casa, ou talvez estaria no galpão ali, ao lado. A coceira na cabeça trouxe a recordação os piolhos pegos na escola uma vez. Sua mãe lhe lambuzara a cabeça de óleo e depois, alisava com pente fino. Tão cuidadosa ela! Mas o cheiro terrível vindo da câmara não lhe trazia lembranças, nem desde que uma fossa vizinha fora
aberta para alguns reparos. Aquela lembrança ficaria para sempre em sua memória, apesar dela não existir mais depois de um tempo.
A fila ia diminuindo. A cada dez minutos, os guardas abriam a câmara, e com máscaras, retiravam grandes quantidades de corpos. A pilha ao lado se sobrepunha a uns cinco metros de altura, só de corpos nus, misturado velhos, adultos e crianças. Mais abaixo, um aterro onde muitos judeus empurravam carrinho de mão com dois ou três corpos, jogando-os dentro do buraco para a cremação ao ar livre.
Tudo isso era indiferente. Não se via tristeza nem amargura nos rostos maltratados e sujos dos judeus escravos, forçados a trabalhar sendo a morte seu caminho inevitável. Nada poderiam fazer pois seu destino já estava traçado a fazer parte de uma limpeza étnica liderado por um maluco alemão. Estavam ali e não havia volta. Não havia tempo para a tristeza: o viver dava conta do pensamento da morte e pra morte, não dá trégua para a tristeza. Viver para morrer é suplício, não tristeza.
A criança ia se aproximando cada vez mais da câmara. Os nazistas, fumando e gargalhando, contavam histórias e anedotas ouvidas na boate no dia anterior. O outro na porta, bebia água em grandes goles. Com certeza era um alívio para o estômago e uma cura para a ressaca. Um judeu, na porta da câmara à espera de seu momento, ajoelha nos chãos e grita para os céus: Porque faz isso com seu povo? Os soldados, assustados com o berro, atiram seus cigarros ao chão e tiram-no aos trancos. Botam ele em ao lado esquerdo da fila, em pé e a uns vinte metros do muro do campo, sacam a arma e estouram sua cabeça. Quatro tiros na cabeça de três soldados. O primeiro a atirar deu o quarto tiro, o último, pois foi o que mais se assustou com seu grito.
Todos tamparam o ouvido. Ninguém ainda havia se acostumado com o estampido das armas, apesar de ser corriqueiro o seu enorme uso nos campos de concentração. Por uma bala perdia-se histórias enormes de vida, exemplos de superação e de humanidade.
        A fila deu mais um passo. O garoto ainda olhava o morto ao lado do muro, sendo despido pelos judeus e jogado no carrinho de mão, enferrujado e amarelado pelo contato com o tempo. Mordeu os dedos e não os sentiu, tamanho o frio daquela manhã.
Inclinou a cabeça pela direita, olhando à frente, mas não soube contar quantos foram os últimos a entrar. Haviam mais três à sua frente. O silêncio era absoluto, ouvindo ao longe os apitos do trem chegando. “Mais carga...” – reclama um soldado, responsável pelos galpões. “Três horas atrás chegou uma e agora mais essa. Avisa o comandante para aumentar o intervalo de tempo senão não teremos lugar para comportar os animais”.
O outro, às pressas, foi se encontrar com o comandante nos portões do campo, transmitindo o recado aproveitando para cumprimentar o maquinista, amigo há muito tempo sumido.
O cheiro da cremação invadia o campo. Muitos alemães tampavam os narizes e não gostavam daquilo, sendo que reinvidicaram a queima dos corpos fora dos campos de concentração de Auschwitz. O cheiro era insuportável e atrapalhava as horas de lazer e a do almoço.
Abriu-se a porta. Adentram-se cinco soldados com máscaras e retiraram mais de cinqüenta corpos. A pilha aumentou e os judeus com carrinhos de mão aceleram o trabalho.
Mais prisioneiros são empurrados para a câmara. Entre eles está o menino, agora enrolando as mãos frias na borda da camisa. Olhou para os lados enquanto todos ali faziam o mesmo que ele, conhecendo o lugar onde se despediriam da indiferença. Não, ele não chorou, mas tossiu muito pois o Zyklon-B entrava pelas suas narinas e sufocava sua garganta. A porta foi fechada e a luz apagada fez um jovem ao fundo gemer. Um cheiro forte tomou todos os pulmões da sala e um a um, foram caindo no chão. O garoto não enxergou mais nada e preferiu sonhar.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

ÉTICA NOS ANIMAIS



A vontade de atender ao próprio prazer vem com uma potência quantitativa, onde quando mais se satisfaz, maior é a ideia de felicidade encontrada, onde nem sempre é verdade. É comum vermos o consumismo degenerar a sociedade e ela própria, sem se dar conta, sabe disso, mas para ela pouco importa. Logo uma nova necessidade de prazer irá chamá-la ao consumismo e a outra, ultrapassada, será apenas uma folha rasgada e jogada fora.               
E isso se dá sem medidas das consequências. Isso relatado acima acontece com qualquer objeto, sendo inanimado ou um ser vivo. Prova disso? Prestem atenção nas queimadas na Amazônia: em troca da luxúria, não respeitam a árvore (como ser vivo e como parte integral da natureza), desmatando e sacrificando animais da floresta, como se fossem intrusos ou simplesmente, um nada como aquele quando olhamos para o universo no telescópio. A banalização da vida, isso sim. Sem bem que o homem nem respeita mais a si mesmo, imagina os outros...
Sim, leitores. Vim aqui porque tenho visto muitas coisas, boas e ruins e achei, FINALMENTE, um assunto interessante de reflexão para o blog.
A introdução acima é uma definição do assunto comentado abaixo. Isso tudo por uma cena vista todos os dias, desde semana passada.
Ao descer para o trabalho, cerca de 5:40 da manhã, me deparo com duas cadelas enroscadas uma a outra, em frente à Princesinha, tremendo de frio. Me lembrei que pouco tempo atrás aquela mesma cadela (a maior), estava rodeada de filhotinhos na pracinha. Agora só estava com uma, e bem maior. Me peguei pensando: será se algum dia teve um dono? Ainda hoje, terça-feira, vejo as duas no mesmo lugar. Tem uma marquise e parece ser mais quente, calculo eu, por estarem tremendo ambas.
Mas agora reflito com convicção: um cão solto na rua teve um dono um dia. Ele não é um cervo ou um leão, animais selvagens, perfeitos na natureza onde é seu lar. O cão é um animal DOMÉSTICO. Seu nome científico? Canis lupus familiaris. Viu? Tem até escrito “família” no nome científico (não que essa seja a causa, é só um trocadilho). Ele se adequou tanto a nós que mereceu o nome como um membro pertencente de um agregamento de humanos. É a partir daqui onde volto lá na introdução: o bichinho está querendo ser, independente de sua vontade, como um “bum”, daqueles sucessos que vem e vão. Vem, todos querem e estão satisfeitíssimos com a novidade. Cansa, ninguém quer mais e deixa de lado.
Tendências quando crescem muito, tendem a perder o controle. A internet, por exemplo. Com sua propagação e evolução, está passando por um lento controle ético, quase à beira de um colapso. Não se enganem ao verem na TV a Justiça investindo em crimes cibernéticos. Estão muito, mas muito longe do almejado. Tudo o que é “da moda”, passa. Pois é: moda agora é ter um cachorrinho em casa. Quantos milhões de reais estão rendendo os produtos pet? Muitos, isso garanto. E o cuidado com eles, aquele todo especial, próprio de um membro da família (Canis lupus familiaris), tem uma boa propagação?
Sim e não. Bom, não nego o esforço de programas como o da Luisa Mell, na Tv Gazeta, todos os domingos. Isso demonstra aquele controle ético, preocupados com a expansão modista dos animais de estimação. Porque? Apesar de termos muitas pessoas realmente preocupadas e interessadas em cuidar de seu bichinho como um autêntico membro da família, maior ainda é o número de pessoas inescrupulosas e viciadas naquilo que “é de momento”. Ou talvez nem isso: sentem-se superiores a qualquer animal e faz deles como um saco de plástico merecedores da lata de lixo. Acabam por matar ou, por sadismo, torturar o bicho por sentirem prazer que a vida deles está em suas mãos. A apresentadora, quando há denúncias, vai até o local, chama a polícia e mostra pro delinqüente o valor da vida animal, nem que seja por intermédio da justiça dos homens. Justiça há, apesar de não ser o esperado. Cabe, na maioria das vezes, multas pequenas ou prestação de serviços. Isso porque a mídia tá de olho, pois se não fosse assim, a Justiça não faria por onde preocupar.
Espero uma mudança dela frente a esses assuntos. No Jornal do SBT, às 5:00 da manhã, deu uma notícia surpreendente e animadora. Com a expansão do comércio de animais domésticos e da utilização cada vez maior de animais selvagens em circos, a Casa Legislativa Federal entrará com um projeto de lei que protege os animais sob qualquer circunstância. Sim, teremos leis em favor dos animais. Não será somente uma questão moral, mas judicial também. A filmagem de um circo por um celular ( não me lembro da cidade), mostradas no jornal, eram desesperadoras e chocantes. Me deixaram super tristes e fui para o trabalho muito aborrecido: cachorros eram socados com toda força, elefantes espetados e muito machucados. Um leão levava cassetada na cabeça com um porrete. Isso tudo fazia parte do treinamento para a apresentação circense. Foram imagens fortíssimas.
Dois filósofos trataram sobre a questão dos direitos animais: Peter Singer e Tom Regan. Eles criticam o especismo e defendem direitos básicos para os animais, como a vida, por exemplo.  Peter Singer diz que o especismo é uma forma de racismo ou machismo frente aos animais. Tom Regan, na mesma linha de Singer, defende que os animais devem ter direitos básicos, assim como os seres humanos têm. Os animais devem ser considerados neles mesmos, não em relação que tem com os humanos como um todo participante da natureza. Eis o resumo das idéias dos “filósofos dos animais”.
Deve ser o nosso papel pensar para o animal, sendo nós racionais. Devemos raciocinar para eles sendo nossos desejos similares pois um animal almeja viver como nós, e cabe aos humanos a obrigação de lhes dar um estatuto de respeito e igualdade até. Já viram um bebê com um mês de vida se alimentando por si mesmo, em luta pela sobrevivência? NÂO. Os filhotes dos animais com um mês de vida já se desprendem das mães e vivem na natureza, em busca de seu próprio sustento. Com esse argumento, deixo uma questão reflexiva: será o “animal” inferior ao homem ou não é meramente um raciocínio ortodoxo humano de superioridade por se considerar pensante?                                                                                 

terça-feira, 4 de outubro de 2011

A fé em jogo


                A fé não é meramente uma questão institucional. Disso ninguém tem dúvida. Mas não é o que se observa na mídia e no nosso dia a dia. Muita gente se esqueceu do fundamento subjetivo do sentimento religioso, daquela fé forte vinda do interior. E o pior: a maioria das pessoas está convicta que sem qualquer instituição, não é possível ter uma vida religiosa saudável. A crença em Deus só é válida quando é demonstrada socialmente, ou seja, quando se freqüenta uma igreja, assistindo missas ou cultos.
                Não que estejam erradas, mas uma sociedade costuma ter o terrível costume de se ver obrigada a freqüentar tais lugares, pois se tornou um costume. Costume esse nem sempre correto, porque os indivíduos nem sempre estão bem ali. Talvez ele queira conhecer outros lugares, outros tipos diversos de cultos. O costume social o envolveu que lhe tirou a liberdade que é seu de direito constitucional. Uma pessoa pode não estar satisfeita com a fé católica, mas apreciou a protestante. Por que há um mal nisso? Ela vê um mal nesse pensamento por se sentir oprimida por fatores morais que lhe rodeiam, como os costumes sociais, exemplo claro daquele que diz: “Pessoa que muda de religião, é porque não tem nenhuma.” O indivíduo se vê angustiado e acuado, temendo ser mal falado e pior, morre de medo de “queimar no fogo do inferno”.
                Devo informar que as igrejas foram construídas muito tempo depois da vinda de Cristo na Terra. Então, seus caminhos são alternativos, não obrigatórios. Cristo não fundou nenhuma pelas suas próprias mãos. Ao contrário, como diz o evangelho apócrifo de Tomé, ele dizia justamente ao contrário: “Levante uma pedra e estarei lá. Rache uma lasca de madeira, e me encontrarás.”
                Vivenciar uma religiosidade objetiva é bom, mas o seu fundamento é a subjetividade. É o que cada um tem a ver consigo mesmo. É como cada um se dá melhor para vivenciar e experienciar sua fé. Ninguém precisa ficar sabendo disso. É a liberdade o fundamento de tudo. Se você não tem vontade ou não consegue conceber uma religiosidade sozinho, que busque uma igreja. Se não agradou de uma primeira, vá para uma segunda. Ainda não agradou? Vá atrás da terceira. O inaceitável nesse caminho é você estar insatisfeito no lugar que freqüenta. Não gostou? Saia. Não dê ouvidos para aquela frase famosa: “Começa assim, não fica é em lugar nenhum.” E daí? São eles os experenciadores de sua religiosidade ou você? Se achar melhor, ou, dizendo de outra maneira, acha que a fé é totalmente subjetiva e que Igreja não tem influência nisso, tem a liberdade da escolha! Viva assim. Viva feliz consigo mesmo, pois sua fé lhe satisfaz. Se no final das contas, percebeu que não acredita em nada, que tudo não passou de uma ilusão, não precisa mentir para você mesmo. Se admita como tal e viva feliz. Mas preste muita atenção: não satisfaça os outros ou qualquer pessoa que seja e esqueça de você. Não seja ator de teatro ou de televisão, que ficam falando palavras decoradas, longe de suas verdadeiras personalidades. Fique e faça onde se sinta mais feliz, sendo você. Os costumes nem sempre guiam a felicidade subjetiva, não se esqueçam disso!

Cultura do Álcool

Anunciar que o nosso município está profundamente enraizado na “cultura do álcool”, para mim é de suma importância e grande tristeza.
Essa cultura está à frente de nossos olhos e já nos habituamos tanto a ela que não nos parece mais uma anormalidade, assim como já nos acostumamos aos noticiários sobre a violência no nosso país. O enorme número de bares, “botequins”, e outras coisas do gênero, para um município de apenas 8.000 habitantes, tornou-se uma caso de saúde pública e nem nos apercebemos diante dessa circunstância. Próximo à minha casa, a 1,5 Km, consegui contar 5 bares. E eles só continuam porque tem gente que os sustentem.
Os donos desses bares são ou fizeram parte da mão de obra desenvolvimentista da economia brasileira, colaborando para o enriquecimento capital e como proletários, precisam de uma renda extra para complementar o salário pequeno ou previdenciário, que por si sós não dão uma condição digna de vida. Eles só querem ter uma condição digna de vida e, baseado na realidade do município, vendo o que os sujeitos mais gostam, abrem logo um barzinho para complementar sua fonte de renda. O maior índice de venda de bebidas alcoólicas é nos finais de semana, mas existem os dependentes que são fregueses.
Existe aqui um pequeno “mas”. Pequeno que se torna enorme. A sociedade está viciada e não consegue se ver  fora mais desses costumes. Os bares se tornaram a referência nos finais de semana e não existe alternativa.
Nunca a bebida alcoólica foi tão difundida em Dores de Campos e no Brasil. Dados comprovam que 80% dos brasileiros têm tendências ao alcoolismo. Nossa cidade não passa de um espelho desses dados sociológicos.
Houve uma grande inversão de valores a partir do século XXI em nosso município, uma coisa muito bem observada. Crianças que outrora ocupavam sua infância com futebol, bolas de gude, pipas, queimadas, pegas, agora mudaram seu molde de vida. Houve um progresso (ou pode ser um retrocesso) moral na qual a infância do século XXI está moldada à juventude do final do século XX. Valores de adolescentes dos anos 90 foram “vestidos” pelas nossas crianças. Essas, hoje, principalmente aquelas em fase de pré-adolescência, fundamentam suas precoces vidas em namoros, celulares modernos, roupas da moda, e, em tons mais perigosos, no álcool e nas drogas ilícitas.
Mesmo por ordem judicial da proibição de vendas de bebidas alcoólicas em estabelecimentos para menores, o comércio continua. E o mais preocupante: vendem em plena luz do dia, sem a mínima consideração pela lei.
A família dorense deveria dobrar a educação aos filhos de forma bem solícita em relação à reflexão acerca das drogas lícitas (bebidas e cigarros). Exemplos para isso é o que não falta. É só dar uma voltinha com eles na rua no fim de semana e mostrar o que acontece com quem bebe.
Tanto o Serviço Social como as Políticas Públicas deveriam dar ênfase a esses problemas e procurar uma solução, através de projetos, demonstrando que é possível divertir sem bebidas alcoólicas. Promover eventos adequados para todas as faixas etárias, como circo, parque, teatro, cinema, etc.
Isso também é papel da Igreja. É de se perceber nas quermesses a venda de bebidas alcoólicas e presença de pessoas embriagadas, cometendo atos inapropriados para tal tipo de festa. Adolescentes têm livre acesso às bebidas, contrariando também a lei. As políticas organizacionais das quermesses têm de ser revistas, para o ambiente poder ser acessível à família e à sociedade.


A QUESTÃO ANTISSEMITA NA CRUCIFICAÇÃO DE CRISTO




                “Os chefes dos sacerdotes e os anciões, porém, persuadiram as multidões a que pedissem Barrabás e que fizessem Jesus perecer. O governador respondeu-lhes: Qual dos dois quereis que vos solte?  Disseram: Barrabás! Pilatos perguntou: Que farei de Jesus, quem chamam de Cristo? Todos responderam: Sejam crucificado! – Tornou a dizer-lhes: Mas que mal ele fez? Eles, porém, gritavam com mais veemência: Seja crucificado! Vendo Pilatos que nada conseguia, mas, ao contrário, a desordem aumentava, pegou água e, lavando as mãos na presença da multidão, disse: Estou inocente desse sangue. A responsabilidade é vossa!” (Mt 27, 20-24)
                “A multidão, tendo subido, começou a pedir que lhes fizesse como sempre havia feito. Pilatos, então, perguntou-lhes: Quereis que eu vos solte o rei dos judeus? Porque ele sabia, com efeito, que os sacerdotes o haviam entregue por inveja. Os chefes dos sacerdotes, porém, incitavam o povo a pedirem, antes, que, lhes soltasse Barrabás. Pilatos perguntou-lhes de novo: Que farei de Jesus, que dizeis ser o rei dos judeus? Eles gritaram de novo: Crucifica-o! Disse-lhes Pilatos: Mas que mal ele fez? Eles, porém, gritavam com mais veemência: Crucifica-o!” (Mc 15, 8-14)
                “Depois de convocar os chefes dos sacerdotes, os chefes e o povo, Pilatos disse-lhes: Vós me apresentastes esse homem como agitador do povo: ora, eu o interroguei diante de vós e não encontrei neste homem motivo algum de condenação, como o acusais. Tampouco Herodes, uma vez que ele o enviou novamente a nós. Como vedes, este homem nada fez para que mereça a morte. Por isso o soltarei, depois de o castigar. Eles, porém, vociferavam todos juntos: Morra esse homem! Solta-nos Barrabás! Este último havia sido preso por um motim na cidade e por homicídio. Pilatos, querendo soltar Jesus, dirigiu-lhes de novo a palavra. Mas eles gritavam: Crucifica-o! Crucifica-o! Pela terceira vez, disse-lhes: Que mal fez este homem? Nenhum motivo de morte encontrei nele! Por isso o solto depois de o castigar. Eles, porém, insistiam com grandes gritos, pedindo que fosse crucificado; e seus clamores aumentavam. (Lc 23, 13-23)
                “Pilatos, de novo, saiu e lhes disse: Vede: eu vo-lo trago aqui fora, para saberdes que não encontro nele motivo algum de condenação. Jesus, então, saiu, trazendo a coroa de espinhos e o manto de púrpura. E Pilatos lhes disse: Eis o homem! Quando os chefes dos sacerdotes e os guardas o viram, gritaram: Crucifica-o! Crucifica-o! Disse-lhes Pilatos: Tomai-o vós e crucificai-o, porque eu não encontro nele motivo algum de condenação. Os JUDEUS responderam-lhe: Nós temos uma lei e, conforme essa Lei, ele deve morrer, porque se fez filho de Deus.” (Jo 19, 4-7)
                Conforme citado e bem visto acima, percebemos claramente nos quatro evangelhos da Bíblia a presença de mais pessoas além dos sacerdotes e dos chefes dos templos na condenação de Cristo. E é aí a problemática desse artigo: quem foram essas pessoas? Conforme nos diz o galileu João, não há dúvidas de que foram os judeus a pressionarem Pilatos em vista dos tumultos feitos no julgamento. Mas, querendo afastar de qualquer maneira a visão anti-semita na crucificação de Cristo, os judeus contemporâneos negam a participação judaica na condenação de Jesus ou simplesmente acusam de anti-semitismo os que ressaltam esse pequeno detalhe nos sermões cristãos. Até Mel Gibson, ao dirigir “A Paixão de Cristo”, foi taxado de anti-semita, pois colocou a presença de judeus no ato do julgamento. Ele respondeu que se inspirou nos evangelhos ao dirigir o filme e, conforme visto acima, ele não estava errado.
                Será então a Bíblia ou os evangelistas anti-semitas? Pouco provável, porque eles próprios eram judeus e o próprio Jesus. Não fizeram nada além de relatar um acontecimento histórico muito importante para todo o mundo durante vários séculos. Acusar os judeus da condenação de Cristo não quer dizer de forma alguma se autodenominar anti-semita. Falar nisso é uma questão totalmente histórica, pelo menos bíblica. Taxar essa questão dessa maneira é entrar na moda contemporânea de anti-racismo. Moda essa negativa, onde não se pode mais se expressar opiniões, prejudicando o estado de direito e de democracia. Que diferença há em dizer: Os judeus mataram Cristo e o Hitler (ou os alemães) matou (aram) os judeus? O evento da 2ª Guerra Mundial não fora de fato um evento histórico? Como os que afirmam isso não são denominados de antigermânicos? Não se pode negar um evento histórico e os que nele estavam, deixando sua marca, sendo positiva ou negativamente.
                Teria a possibilidade de nos evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas, no que se refere ao “povo” que eles citam, serem germânicos, gauleses, romanos? Também é provável que não. Germânia e Gália estão muito distantes dali e os romanos eram a minoria em meio a quantidade de judeus. Apesar de não expressarem claramente como João, há uma forte tendência de que queriam se referir aos judeus.
                Ao longo da história, os judeus foram mais vítimas que carrascos. A própria Bíblia relata sua escravidão no antigo Egito (sendo libertados por Moisés), depois no início do século XX na França, dando início ao movimento racista denominado antisemitismo, e, ao evento mais marcante do conhecimento de todos, a II Guerra Mundial. Hoje ainda vemos sua vitimação através da constante luta pelo reconhecimento do estado palestino dentro de Israel.
                Ressalto uma coisa muito importante e que seja bem clara para os leitores: nunca se deve julgar os povos pelo seu passado. Os alemães contemporâneos não podem carregar a culpa do genocídio e os judeus não podem ser taxados de culpa pela morte de Cristo. O Papa pediu desculpas pelos erros passados da Igreja e se fosse possível, cada um desses povos também pediria. Mas também não podemos negar as evidências históricas ao relatarmos tais feitos e negarmos a participação de certas pessoas ou povos para evitar a crítica.
                Não sou anti-semita e muito menos tenho alguma aversão a qualquer sociedade. Mas, ao olhar a História e perceber tais atos feitos por tais pessoas e escrever sobre isso, não me faz disso “aquele que aponta o dedo”, mas demonstrar diferenças sobre aquilo que se é e o que não é. O passado, nesta questão, não justifica o presente.